A NATUREZA HUMANA SEGUNDO FREUD
Freud considera, na sua teoria, a pulsão de vida e a pulsão de morte como faces da mesma moeda, dando a entender que eros e tanatos têm o mesmo peso. Todas as duas formas de energias transitam livremente no inconsciente, cujo único objetivo consiste em aliviar suas tensões, segundo o princípio do prazer e de acordo com o processo primário. Para ele, o homem é possuidor de um permanente conflito entre forças antagônicas existentes em seu interior.
O id totalmente inconsciente, não obstante, nem bom nem mal, abstém-se de qualquer lógica ou racionalidade e faz tudo o que lhe é possível fazer para atingir seus objetivos, ou seja: livrar-se da pressão de energias, das quais ele é o próprio reservatório. O ego, por sua vez, gerado que foi pelo id, no sentido de facilitar-lhe a obtenção do prazer, tenta a todo custo servir de mediador entre as exigências dele e as exigências da realidade externa, reduzindo ou adiando o seu prazer, em prol de uma racionalidade aceitável. Um terceiro elemento, oriundo do ego, ganha força com o complexo de Édipo e de castração, e também participa desse jogo de poder. Trata-se do superego, o aliado da cultura, na perpetuação das normas e dos valores sociais. Agora, o ego, além de mediador entre as exigências do id, do superego e da realidade externa, precisa se fortalecer para dominar o mais possível o conteúdo inconsciente e escrever a sua própria história, pois, como vocês devem estar lembrados, o ego e o superego têm o seu lado obscuro ou inconsciente.
Quando apreciamos a obra freudiana, observamos que toda ela é marcada por um certo ceticismo em relação ao homem. Sendo a natureza humana, na sua visão, determinada, sobretudo, pelas pulsões e forças irracionais, oriundas do inconsciente; pela busca de um equilíbrio homeostático; e pelas experiências vividas na primeira infância.
Tudo o que o homem construiu - as artes, as ciências, suas instituições e a própria civilização - num contexto mais amplo, não passa de sublimações dos seus impulsos sexuais e agressivos. Neste sentido, pode-se afirmar que, sem as defesas é impossível a civilização, e que uma sociedade livre e sem necessidade de controle está fora de cogitação.
Considerando que a psicanálise, enquanto tratamento, tem por objetivo restaurar a harmonia entre o id, o ego e o superego, parece que, só através da mesma, o indivíduo tem alguma chance de mudar esse quadro determinista. Mas, o próprio Freud não se mostrava muito otimista, ao afirmar: (...)"a análise não se propõe abolir a possibilidade de reações mórbidas, e sim proporcionar ao ego do paciente liberdade para optar de uma maneira ou de outra".(Cit. por May, 1982, p.218)
Na teoria psicanalítica os neuróticos são atormentados por sentimentos de culpa constantes, pelo fato de possuirem um superego forte e um ego fragilizado. Tais sentimentos tendem a impossibilitar ou diminuir a expressão pulsional, o que provoca nele um sentimento, freqüente, de frustração. Ao passo que, os psicóticos são indivíduos dominados pelo seu id, pois, em decorrência da quebra de suas defesas, eles perderam o contato com a realidade. O ego precisa ser restaurado para que ele volte aos padrões normais de funcionalidade.
Freud considerava o complexo de Édipo como núcleo das neuroses. Isso significa que, a menos que aprendamos a chegar a um acordo com nosso amor e ódio ambivalentes em relação aos nossos pais e possamos aceitar os sentimentos edipianos, não negá-los, reprimí-los ou encená-los, nunca poderemos formar relacionamentos emocionais adequados com outras pessoas, e a necessidade de expressar e receber afeição, conforme é vista na criança, nunca poderá ser satisfeita. Essa é uma causa primária da perturbação neurótica (Kline, 1988, p.40).
Continua...
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