Ainda que olhando para a vida com benevolência
e boa vontade, o que se pode esperar que aconteça? Entre um tédio e outro,
entre um objetivo alcançado e a sua imediata insignificância, entre um fracasso
e uma satisfação, a foice do tempo vence aos poucos o combate... e nada não nos
salvará do abatimento.
Corremos sem propósito, mas parar não é uma
escolha. O sol vai sempre se pôr para levantar-se atrás de você mais uma vez em
um outro dia. E por isso você vai correr e correr pra fugir dessas sombras, mas
o sol vai continuar sempre se pondo. E se a distância na sombra nos congela,
alcançar a luz nos queimaria: só em movimento mantêm-se um equilíbrio sem
sentido que nos conduzirá em linha reta até a morte.
Acredite então no que conseguir. E sonhe com
um paraíso além do sol e longe do tédio, em que a existência em si seria
suficiente. Imagine o fim da dor e da miséria, da vontade e da lembrança.
Talvez o que esteja errado seja a própria existência. Quem sabe já tenhamos
morrido e renascido várias vezes sem saber e hoje, aqui, estejamos no inferno -
amaldiçoados em desejar e nunca se satisfazer; em realizar e tornar ao vazio;
em nascer e morrer sem nunca firmar a certeza de um motivo.
De sonhos em sonhos, os dez anos da canção há
muito tempo já ficaram para trás. Confortavelmente anestesiados pelas cores
mais bonitas do passado. Ninguém é feliz por completo no presente, mas é
necessário aquecer os ossos ao sol. Ainda que esses ossos e todo o resto sejam
esquecidos e apagados para sempre pela terra abaixo de nós.
Fonte: http://forum.cifraclub.com.br/forum/11/221129/
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