sexta-feira, 17 de junho de 2011

O que é o Medo?


Por que sofremos por uma expectativa, por uma perspectiva futura? Por que nos alteramos por medo, a ponto de nos descontrolarmos? Por que deixamos de dizer o que pensamos, fazer o que queremos, escolher o que consideramos melhor devido ao medo? O que faz com que algumas de nossas reações descontroladas, quando movidas pelo temor, venham a ser motivo de posteriores arrependimentos? O que ocorre conosco que permite ao medo, em algumas situações, ser capaz de interromper, travar nossas ações?
Na perspectiva aristotélica, o medo não é um mal em si. O aspecto negativo do medo residiria no desequilíbrio provocado por um temor desmedido. A saída, apontada por ele, para o equilíbrio necessário para a virtude estaria em encontrarmos a justa medida, o meio termo, o equilíbrio entre o excesso e a falta, entre as necessidades de cada singularidade e as necessidades do todo social.
Diante das situações cotidianas, como você estabeleceria a justa medida? Você consegue avaliar adequadamente as situações diante das quais se encontra? O que precisa fazer para isso? De que você tem medo? Seu medo é justificável? Há elementos nos quais ele possa ser fundamentado? Ou ele é fruto de algumas de suas divagações?
Epicuro apresentou o medo como uma das grandes causas de sofrimento humano: medo dos deuses, medo da morte, medo da dor, medo de dificuldades e privações. Ele considerava que esses medos eram fundamentados em opiniões falsas, e propunha o conhecimento de si e do universo como caminho para a imperturbabilidade humana. Você consegue não se perturbar com seus medos? Se você buscasse as origens de tais medos, o que encontraria? Eles são justificáveis?
Os estóicos defendiam que o mundo possuía uma ordenação racional perfeita, e que o medo era derivado de vermos no mundo algo que não existia e não podia existir. Segundo eles, calma e equilíbrio racional seriam suficientes para nos guiar do medo à precaução, não havendo um mal que pudesse ameaçar a razão.
Segundo Espinosa, no livro Ética, a imagem de uma coisa passada ou futura tem o mesmo poder de nos afetar que uma imagem de uma coisa presente. Ao tratar das afecções, das paixões da alma, ele aponta medo e esperança como nascidos de uma imagem futura ou passada, da qual duvidamos do resultado. Com isso, aproxima as duas paixões a partir de uma origem comum: a dúvida. "Com efeito, a esperança não é senão uma alegria instável, nascida da imagem de uma coisa futura ou passada, de cujo resultado duvidamos; o medo, ao contrário, é uma tristeza instável, nascida também da imagem de uma coisa duvidosa. Se se retira a dúvida dessas afecções, a esperança transforma-se em segurança e o medo em desespero, a saber, a alegria ou a tristeza nascida da imagem de uma coisa que tememos ou esperamos" (Espinosa, 1973).
Como é possível que uma imagem passada ou futura nos perturbe a ponto de provocar oscilações em nossos estados afetivos? Como a dúvida sobre tais resultados pode nos mover ou nos impedir?
Espinosa define que "A esperança (Spes) é uma alegria instável nascida da idéia de uma coisa futura ou passada, do resultado da qual duvidamos numa certa medida", e "O medo (Metus) é uma tristeza instável nascida da idéia de uma coisa futura ou passada, do resultado da qual duvidamos numa certa medida". Destas definições ele afirma que "não há esperança sem medo, nem medo sem esperança". Se retiramos a dúvida, a esperança se torna segurança, e o medo se torna desespero. Assim, as oscilações da alma estariam diretamente relacionadas a tais imagens ou idéias de coisas passadas ou futuras, das quais duvidamos. Dúvidas que nos levam ora à esperança, ora ao medo.
Fonte: Filosofia Ciência e Vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário