Apesar de criticar a intolerância religiosa, Voltaire acredita que a crença é importante para a sociedade. Mas a aceitação de seus dogmas sem questionamento levou o homem ao fanatismo, à barbárie e à destruição
OPRESSORES DA RAZÃO
Os padres eram considerados opressores da razão e dos sagrados direitos. No Dicionário filosófico, Voltaire não lhes perdoa as ofensas à razão. Escreve: “quando um padre diz ‘Adorai a Deus, sede justo, indulgente e bondoso’, é um bom médico. Quando diz ‘acreditai em mim ou sereis queimado’, é um assassino”. De imediato, somos levados a pensar que Voltaire odiava o clero com toda sua ira, mas não é bem isso. Voltaire não suportava a forma com que o clero pregava o cristianismo. Conta que na França, um cura chamado João Meslier, ao morrer, pediu perdão a Deus por ter ensinado o cristianismo a seus paroquianos. Essa confissão mostra como a prática do cristianismo era cruel e abusiva, pois, além do clero não temer a Deus, usava o nome de Deus para sufocar e instigar as pessoas contra outras seitas.
A intolerância mais bárbara entre os cristãos, sem dúvida, dava-se na França. Eram os próprios cristãos os perseguidores, os carrascos e os assassinos dos próprios irmãos. Destruíam cidades com crucifixo ou Bíblia na mão, sem cessar de derramar sangue e acender fogueira. Contudo, essa era uma prática que não se dava em todos os países da Europa. Se muitas destas barbáries foram encabeçadas pelo clero francês, padres católicos de nenhum outro país protestante agiam assim, segundo Voltaire, dando como exemplo os padres da Inglaterra e da Irlanda que ali viviam pacificamente. A indignação estava na tentativa de encontrar uma resposta ao porquê de sua nação ser sempre a última a abraçar as opiniões saudáveis dos outros países.
Para Benjamim Franklin, “o jeito de ver pela fé é fechar os olhos da razão”. De fato, os homens precisam exercitar a razão, e não aceitar seus dogmas de forma fanática e cega. O raciocinar pela metade só leva ao fanatismo e falsas superstições, pois aquele que não aceita questionar sua fé, seus dogmas e sua religião, perdeu esta capacidade inerente a todo homem: o pensar. Este homem passa a ser um indivíduo que apenas repete “verdades” reveladas, por mais absurdas que sejam. A humanidade ainda tem muito para avançar se destruir de vez o fanatismo religioso de seu interior, que tanta desgraça e destruição tem trazido ao mundo.
Fonte: http://filosofiacienciaevida.uol.com.br
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