As disposições existenciais: “Ser” e “Ter” como sendo impulsores das ações humanas. De modo que tanto a história das civilizações como a condição humana podem ser analisadas.
Assim, para Fromm, o modo “Ser” da existência é aquele em que não se tem nada, nem se anseia por ter alguma coisa, senão o emprego das faculdades de forma produtiva e alegre, numa identificação como o mundo.
Pela disposição “Ser podemos compreender, então, uma abertura qualitativa do indivíduo em favor da compreensão da diferença e da singularidade de cada pessoa ou coisa, havendo assim o respeito intrínseco à pluralidade dos indivíduos e à Própria natureza circundante.
Já no modo “Ter” da existência, meu relacionamento com o mundo é de domínio e posse, em que quero que tudo e todos, até eu mesmo, sejam minha propriedade ( Ter e Ser, p. 43). A disposição “Ter” representa a avidez pela posso material, o desejo de usufruir ao Máximo uma dada coisa, para então trocá-la por outra mais atrativa. Até mesmo o seres humanos são inseridos nessa dinâmica cruel, que, na sociedade do vazio existencial, transforma a pessoa, dotada de sua singularidade numa coisa destinada imediatamente ao consumo simbólico.
Em nossa sociedade tecnocrática, “Ter” se tornou uma disposição hegemônica, comandando as nossas ações e valores por meio do postulado de que uma pessoa pode ser avaliada por aquilo que ela possui e não por aquilo que ela “é”, ou seja, por suas qualidades singulares. Nessa dinâmica de dissolução da dignidade humana, “a pessoa não se preocupa com sua vida e felicidade, mas em tornar-se vendável”, segundo, Erich Fromm (Análise do homem, p. 72). Dessa maneira, as relações pessoais adquirem o estatuto de bens negociáveis, sendo que para tudo há um preço que pode ser pago.
No contexto das experiências amorosas do mundo “Ter”, a situação também é asfixiante: as pessoas se tornam coisas que podem ser adquiridas, consumidas e descartadas ao do usuário, bastando apenas que ele enjoe do parceiro, trocando-o por outro que aparentemente se demonstre com mais interessante no momento.
Nessa dinâmica existencial, ninguém é considerado insubstituível e toda idéia de singularidade se torna passível de zombaria. As relações amorosas se tornam apenas um meio de obtenção imediato de prazer sexual, e não uma genuína interação interpessoal pautada pelo respeito e afirmação do valor do outro, experiência na qual as duas partes ampliam as suas forças vitais por meio da alegria. Dessa maneira, a disposição “Ter” desconhece a experiência da alteridade e a genuína compreensão da prática amorosa, que se sustenta na necessidade mais profunda do ser humano de superar seu estado de isolamento em relação ao outro. Fromm diz que “se eu amo o outro, sinto-me um só com ele, mas com ele como ele é, e não na medida em que preciso dele como objeto para meu uso”( A arte de amar, p. 35).
Fonte: "Ser" e "Ter" de Erich Fromm.
Continua...
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