terça-feira, 12 de julho de 2011

CIÚME: dá para controlar?


Para alguns pensadores, é possível dominá-lo e torná-lo moderado, como no caso das paixões em geral. Para outros, não há meio-termo, é preciso extirpá-lo
Segundo Descartes, o ciúme tanto pode ser positivo quanto negativo. É positivo quando é apenas zeloso e o que se procura preservar é de real importância, e negativo quando está associado ao egoísmo ou à insegurança.
Já Espinosa entende o ciúme como algo apenas negativo: é uma tristeza decorrente da ameaça de uma perda. Mesmo dizendo que o ciúme está relacionado ao sentimento do amor, diz que se converte em ódio sempre que a relação amorosa parece ameaçada. Espinosa acrescenta o seguinte aspecto negativo ao ciúme: o ciumento tende a adquirir aversão pela pessoa amada.
MEDO IRRACIONAL
 Os estóicos, de acordo com o que escreve Diógenes Laércio em Vida e obra dos filósofos ilustres (Cap. VII), incluíam o ciúme entre as “contrações irracionais da alma”. Referindo-se a uma obra de Crisipo sobre as paixões, Diógenes afirma que o ciúme está entre os temores relacionados à expectativa de um mal que escapa ao controle da razão.
Descartes dizia que o ciúme é uma espécie de temor relacionado ao desejo que se tem de conservar a posse de algum bem.
Descartes também enfatiza o lado irracional do ciúme: “o ciúme não decorre da força das razões que permitem julgar que este bem possa ser perdido e sim de uma suposição que faz a respeito do que se julga que pode ser perdido” (Descartes, Tratado das Paixões, art. 167). No mesmo Tratado, Descartes define o ciúme como “uma espécie de temor relacionado ao desejo que se tem de conservar a posse de algum bem”.
Para Matheus, Espinosa vai além de Descartes, ao aproximar o ciúme da inveja, dizendo ser “um sentimento simultâneo de amor e de ódio acompanhado da idéia de outro de quem se tem inveja” (Ética, III, Escólio da Proposição 35). Espinosa define a inveja como sendo “uma tristeza diante da felicidade de alguém” (Ética, III, 23), sendo o ciúme resultante da “imaginação de que a coisa amada se une a outro, de modo a impedir fruí-la sozinho” (Ética, III, Proposição 35).
O ciúme tem sido relacionado, em várias ocasiões, à inveja por ser um sofrimento decorrente do sentimento de inferioridade em relação a alguém. Como a inveja, o ciúme também provoca sofrimento em quem não se sente merecedor de algum prêmio, conquista ou aquisição.
Os pensadores do século XVIII mantiveram esta visão. O ciúme como sendo um modo pelo qual o ser humano se coloca em inferioridade em relação aos demais. Este é o ponto de vista de Adam Smith, exposto em sua Teoria dos Sentimentos Morais e de Immanuel Kant, em suas Lições de Ética. “Embora não se refiram especialmente ao ciúme, ambos apontam a inveja como uma conduta na qual há um desejo de alterar a relação entre sua felicidade e a dos outros. Seria possível aplicar ao ciúme o que diz Kant da inveja: um modo irracional de querer ser feliz”.
Só o Romantismo irá quebrar essa visão racionalista a respeito do ciúme. Surge a paixão romântica, na qual o amor rima com a dor, como duas faces do mundo emocional. “Há uma canção popular na qual se expressa esta visão romântica do ciúme: ‘o ciúme é o perfume da flor, o ciúme é o queixume da dor’”, comenta Matheus. Para o Romantismo, o ciúme tanto faz parte das emoções como também dos sofrimentos que cercam os sentimentos humanos.
Na vida ou na arte não faltam exemplos de histórias sobre ciumentos. É um sentimento que aparece com freqüência nas relações humanas, quer seja nas relações amorosas entre homem e mulher como também nas lutas pelo poder político, nas disputas econômicas e nos congressos científicos. Nas relações familiares são freqüentes as cenas de ciúmes, especialmente entre irmãos, como aquela narrada pela Bíblia, entre
Os amantes trazem muitos problemas ao amado, que estariam ligados a uma paixão excessiva que se traduziria em ciúme.
Caim e Abel. “Seria possível, também, dizer que até os deuses experimentam o sentimento do ciúme, como teria sido o caso do castigo sofrido por Prometeu. O ciúme de Menelau, face ao rapto de Helena, por Páris, teria sido a causa da Guerra de Tróia. E várias tragédias de Shakespeare ou de Racine revelam sua presença como um fator oculto de caráter emocional, tornando quase sempre ausentes as condutas racionais”, menciona Matheus.
O ciúme também é tema recorrente dentre os filósofos que estudam as paixões e as emoções humanas. Ele é discutido, por exemplo, no Fedro, diálogo no qual Platão se refere aos conflitos entre amantes, nos quais o ciúme os torna violentos, criando uma relação semelhante ao modo como o lobo ama o cordeiro.

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