sábado, 24 de setembro de 2011

O que é um Líder?


As pesquisas de opinião surgiram na melhor das intenções como um instrumento auxiliar da formulação de políticas, definição de estratégias e concretização dos potenciais de liderança. Mas enganos comuns - provocados por ausência de personalidade ou excesso de demagogia - perverteram seu sentido original de "saber como a população pensa para saber que rumo tomar" para um amorfo "vamos dizer o que eles querem ouvir".
A chamada "opinião pública" é algo muito recente na história da humanidade, no máximo remontando à revolução francesa. Talvez por isto ela tenha sido negligenciada pelos mais diversos filósofos que pensaram no que deveria ser a democracia. Quando a descobriram imaginaram-na como um dos pilares do Estado Democrático, uma força maior capaz de vigiar e dirigir os detentores do poder, mas logo se viu que esta uma ilusão ingênua.
Ao pretensamente "materializar" a opinião pública as pesquisas passaram a levar aos líderes a volatilidade de opiniões e a ausência de perspectivas menos imediatistas diretamente às lideranças políticas. Com isto destruíram estas lideranças que ou deixaram de ser verdadeiros líderes pois pararam de decidir quais eram os caminhos a tomar ou passaram a se tornar líderes demagógicos que só falam aquilo que interessa à massa.
Mercador de esperanças
O líder não é aquele que faz o que esperam dele, mas sim aquele que é capaz de convencer a sociedade que aquilo que ele pode fazer é o que deve ser feito. Napoleão disse que o líder é um "mercador de esperanças" e neste papel está implícito a idéia de convencer a sociedade de seus projetos. Não é possível construir qualquer coisa concreta sobre o castelo de areia da "opinião pública" porque hoje ela quer uma coisa, amanhã outra e não se preocupa com o futuro a não ser de uma forma muito vaga.
Isto não significa que a "Opinião Pública" não deva ser levada em consideração, ou que não tenha nenhum valor, apenas que não é suficiente para levar qualquer sociedade para algum lugar. O verdadeiro líder é capaz de identificar o que a população pensa tanto quanto de estabelecer um projeto próprio de sociedade e exercício do poder, a partir da interação destes dois dados chega então a um certo meio termo que nem ignore a opinião popular nem desvirtue os seus projetos.
O líder autoritário que insista na realização de seus projetos ignorando a vontade geral está fadado ao fracasso, ao ostracismo e no máximo será saudado pelas gerações posteriores como visionário, mas será incapaz de chegar e manter-se no poder. O líder demagógico que insista em apenas seguir as aspirações da massa será levado a mil becos-sem-saída, envolver-se-á em tantos conflitos grandes e pequenos, mudará tanto de opinião que está igualmente fadado ao fracasso e ao descrédito, inclusive junto à massa que o guiou.
Caminho do meio
A alternativa das lideranças reais, tão escassas na cidade, é a capacidade de sentir os anseios da multidão, analisar suas tendências, projetar suas aspirações e a partir destes dados estabelecer um plano estratégico para colocar seu projeto, sempre com algumas concessões. Maquiavel determinou com exatidão que o público se engana com questões gerais, mas normalmente acerta em questões particulares, o que parece ser facilmente demonstrado pela história.
Assim um vasto projeto geral dificilmente seria compreendido pela maioria da população, mas dividindo-o em pequenas partes oportunamente apresentadas, defendidas com bons argumentos, justificadas por necessidades concretas que todos podem enxergar, habilmente trazidas à agenda do cidadão em momentos adequados quase sempre serão entendidas e apoiadas.
Evidente que há dois perigos que o líder deve estar disposto a correr ao fazer isto, o primeiro é que sua idéia inicial estará sujeita a ser modificada no decorrer da discussão e ele deve estar preparado para negociar estas mudanças. A segunda que ele corre o risco de se perder nas partes e esquecer o todo se não tiver uma visão estratégica de longo prazo, portanto um planejamento eficaz e de longo prazo.
Carisma e intuição
Toda esta avaliação sobre liderança pode dar a impressão que o papel do líder é um papel técnico, mas isto não é verdade até porque em geral os técnicos são péssimos políticos e líderes fracos no mais das vezes. Para que não se corra o risco deste mal entendido, ou de imaginar que qualquer um pode tornar-se um líder se dotado de algum conhecimento específico é preciso levar algumas coisas em consideração.
Para a imensa maioria das lideranças de fato o conhecimento da opinião pública e as estratégias a seguir é algo intuitivo. Sem precisar analisar uma única pesquisa ele sabe o que a população quer e pode usar este conhecimento tanto para fazer demagogia como para alavancar saltos mais altos rumo a um poder mais permanente que o do demagogo.
A esta intuição soma-se o que se convencionou chamar de carisma, esta mal definida capacidade hipnótica que faz o líder ser capaz de convencer a massa que o que ele propõe é o que ela quer e ser capaz de convencer a sociedade a segui-lo. Sem este poder de persuasão tão mal definido dificilmente alguém se tornará líder sem o recurso das técnicas, até porque o carisma não é algo que possa ser aprendido, mas um dom que pode no máximo ser treinado e turbinado com a técnica e a estratégia.

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