sábado, 9 de julho de 2011

Música e emoção


Parece bastante razoável a idéia de que há alguma relação entre a música e as emoções humanas. É comum ouvir pessoas a utilizar termos emocionais para se referir às músicas que escutam nos mais variados contextos. Frases como “Esta música é triste,” “Esta música expressa melancolia,” “Esta passagem musical é jocosa,” são proferidas de forma mais ou menos irrefletida pela maioria de nós.
Um fato interessante é que, mesmo que não resultem de um raciocínio cuidadoso, parecem intuitivamente adequadas para descrever várias músicas. Se alguém dissesse, por exemplo, ao escutar o primeiro movimento do concerto para flauta e orquestra de cordas op. 10 n.° 3 de Vivaldi, que se trata de uma música triste ou que expressa tristeza, acharíamos demasiado estranho. A razão para isto é que parece haver aspectos intrínsecos a esta obra que fazem que seja correto caracterizá-la com termos como “alegre” ou “leda” ao invés de “triste” ou “melancólica.”
No entanto, quando nos detemos a pensar mais cuidadosamente, percebe-se que não é tão óbvia a razão pela qual pensamos que estes termos caracterizam adequadamente esta obra musical. Desse modo, surgem alguns problemas: terá a música absoluta propriedades tais que legitimem o uso de termos emocionais para descrevê-la? E, se tem, que propriedades serão essas? O que significa dizer que uma música é triste, ou que exprime tristeza? Em virtude de que aspectos algumas músicas conseguem provocar ou induzir estados emocionais?
Alguém poderia argumentar que tais problemas não têm assim tanto interesse dizendo que é óbvio que as músicas exprimem emoções, uma vez que há um uso lingüístico cristalizado que amiúde a descreve em termos emocionais. Contudo, responderíamos que daí não se segue que a música exprima ou provoque realmente emoções definidas.2 Ou seja, no que concerne à natureza da relação entre a música e as emoções, nada podemos concluir a partir do que foi mencionado. Trata-se apenas de uma afirmação empírica acerca do uso que as pessoas fazem da linguagem. Da mesma forma, referimo-nos freqüentemente ao “nascer” e ao “pôr” do Sol, mesmo sabendo que se trata de uma falsidade astronômica: é a Terra que se move e não o Sol. Portanto, uma prática lingüística não serve para estabelecer a verdade do que esta prática pretende referir.

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