segunda-feira, 25 de julho de 2011

O que é ser alguém?


A noção de pessoa, tal como a conhecemos hoje, é uma categoria relativamente recente na história ocidental. A pergunta pelo ser humano, no entanto, começou ainda no início da Filosofia. Perguntar o que é ser uma pessoa é examinar uma questão que tem suas origens, como quase todas as questões filosóficas, na Grécia antiga. A pergunta não é pelo Ser, ontos, mas pelo humano, o anthropos.
Você disse "SER HUMANO"?
Para a publicidade, você é um target a ser atingido; para a Receita Federal, um contribuinte a ser tributado; em algumas empresas, você é um recurso para ser administrado; perante a Constituição, um cidadão com direitos e deveres; para qualquer loja, um cliente a atender; para o mercado, um consumidor.
E uma série de números - RG, CPF, senhas e registros em bancos de dados. Parafraseando Flusser e Proudhon, completando com Raul Seixas, ser alguém é também ser codificado, conectado, plugado, mapeado, digitalizado, tuitado, blogado, perfilado, guardado em bits, pixelizado e significado, se quiser existir.
Quando Sócrates traz o foco de investigação da Filosofia do cosmos para o anthropos, de certa maneira ele rompe com parte da tradição filosófica anterior e traz o exame da vida humana para o centro do debate, perguntando o que é a virtude, a justiça e o poder. Na obra de Platão, essas questões se desenvolvem em várias direções, assim como Aristóteles, tanto na Ética quanto na Política - e em vários outros momentos -, procura encontrar definições para o ser humano. A noção de "animal racional" é secundada, na Política, pelas condições de formação do participante da pólis.
Nas várias faces e momentos da Idade Média, a pergunta pelo ser humano não se perdeu nem se resumiu a considerá-lo uma imagem e semelhança de Deus, mas a pensá-lo como parte de um projeto cosmo-teológico que colocava o ser humano como pivô de forças cósmicas em combate.
A moderna noção de pessoa, de certa maneira, começa no Iluminismo a partir do momento em que se pensa o ser humano como racional, livre e responsável por suas ações. Em sua Resposta à questão: o que é o Iluminismo, Immanuel Kant responde que ele é a chegada do ser humano à sua maioridade, o que significa a liberdade de decisão por si mesmo e, em contrapartida, a liberdade de suas ações. E isso imediatamente gera implicações éticas: em sua Crítica da Razão Prática, Kant indica que uma condição fundamental para a vida comum é considerar as pessoas como fins em si, não como meios - se todos os seres humanos são iguais, deve-se tratar a todos do mesmo jeito.
Essa mesma liberdade parece estar presente no conceito de pessoa que a Revolução Francesa traz décadas mais tarde, o "cidadão". Não é mais o "súdito" de alguém, mas a pessoa que mora na cidade, autônoma, livre. A igualdade entre os homens significava o mesmo potencial de liberdade para todos - não fazia sentido considerar o outro como igual e tratá-lo como inferior ou superior. A liberdade implicava a igualdade. E, ao acrescentarem a "fraternidade" a esses dois elementos, já se supunha uma regra prática para a vida moral: seres livres, iguais e racionais só poderiam escolher, como princípio de vida, a fraternidade.

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