domingo, 28 de agosto de 2011

Trabalho possibilidade humana e humanizante


Todo trabalho tem duas marcas bem próprias: é fonte de riqueza e cria solidariedade. Qualquer trabalho tem como conseqüência lógica à movimentação de riquezas, estas devem ser postas em solidariedade, para que na verdade tenha perspectiva de futuro. As riquezas advindas do trabalho reclamam por partilha ou não terão futuro. Gosto de dizer que riquezas acumuladas dão o “cupim”, não serve para quem acumulou nem para quem ajudou a acumular.
É trabalhando que o homem faz riqueza e movimento riqueza. Riqueza nenhuma cai do céu, esta é conseqüência direta do trabalho. Capitalismo e socialismo tentaram dar lógica as relações d trabalho. O Capitalismo fez concentrar riquezas nas mãos de alguns poucos, enquanto o Socialismo engendrou a ditadura do partido que não deu em muita coisa e não favoreceu o sonhado mundo comunista. O capitalismo favoreceu as constantes crises econômicas dentro das quais vive o mundo atual. O Socialismo, hoje desfacelado, persiste em algumas experiências que aos poucos fenece. O grande contraste se faz real quando, entre nós, é presentes grandes blocos de riqueza e opulência e por outro lado multidões vivem na miséria. Por cima de tudo isso, o mundo de miséria é formado pelo mundo dos trabalhadores. As grandes riquezas usufruídas por alguns têm por base os trabalhadores braçais, pequenos serventes, mecânicos, apanhadores de lixo, etc., personagens incontáveis, mas necessárias ao desenrolar de qualquer empresa.
O Senhor Jesus, o modo de Deus-Pai tomar forma entre nós, depois de sua experiência de morte de cruz, um dia as margens do logo de Tiberiades, perguntou aos seus discípulos que tinham passado a noite toda trabalhando: “amigos, não tendes acaso alguma coisa para comer?” A resposta foi negativa: “não” (cf. Jo 21, 1ss). Esta situação é gritante em nossa realidade. O Senhor Jesus continua gritando das margens de nossas periferias a todos os trabalhadores: “vocês têm o que comer? Diante de uma constatação de fome da classe trabalhadora, o Senhor Jesus nos convida a lançar as redes a direita (cf. Jo 21,6). Não podemos ficar “malhando em pedra dura”, urge fazer algo novo e diferente. Não é racional, nem de fé, alguém trabalhar e não ter o básico para viver. Isto clama os céus, pois tem alguém locupletando-se do suor de outros.
Nesta situação a Igreja nos propõe os rasgos do evangelho, como chance de jogar “as redes a direita” o dever de todo cristão de assumir a Doutrina Social da Igreja, onde o elemento primordial é a compreensão de que toda riqueza tem hipoteca social. As riquezas não são para usufruto de alguns poucos, mas deve chegar ao trabalhador, pois tem muito do seu empenho.
Que isto não chegue como esmola, nem como ajudazinha, mas como salário digno, participação nos lucros, férias remuneradas, bem-estar social, segurança no trabalho, etc. Isto já legislado em leis trabalhistas, mas ainda não respeitadas. Por cima de tudo isto, quando os órgãos governamentais tentam impor as exigências da lei, temos a gritaria do empresariado que míopes não despertam para a falência de suas próprias empresas, quando não são capazes de investir no homem trabalhador. E aqui no Seridó quantas riquezas dando o “cupim”! Riquezas que não foram partilhadas, hoje em pleno deteriorização aos olhos vistos. Apesar de tudo isto temos pouca conversão.
A segunda dimensão do trabalho é que ele cria solidariedade, sem esta dimensão o trabalho não é humano. O trabalhador nunca está só, por isso o associativismo é parte integrante nas relações do trabalho. Trabalhador desorganizado não pode ver recompensado seu esforço em fazer acontecer riquezas. Não tem consciência do valor do seu trabalho e como tal não pode reclamar de sua situação iníqua, acomodando-se a compreensão cultural onde o trabalhador é para trabalhar e patrão é para favorecer algumas migalhas e assim trabalhadores e patrões não crescem no processo de cidadania. O trabalhador organizado tem vez e voz. Patrão consciente do valor do trabalhador não fica esperando a interferência do Estado em sua empresa, mas anda na justiça trabalhista, pois sabe que investir é a única chance de produzir mais riquezas. Trabalhador organizado tem possibilidade de reivindicar direitos quando negados, inclusive o direito de greve, quando lhe é negado a participação nas riquezas advindas do seu trabalho. Aqui se requer muita conversão de trabalhadores e patrões, em especial os ditos cristãos. E nossa conversão deve ter por base a Doutrina Social da Igreja, que segundo João Paulo II é Teologia Moral.
Pe. Manoel Pedro Neto

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