“O coração tem suas razões, que a razão não conhece” Não poderia terminar esse artigo sem trazer um dos axiomas mais famosos de Pascal. Ele nos revela a essência do pensamento pascaliano e nos abre a perspectiva da necessidade do desenvolvimento da sensibilidade. Pascal nos coloca diante da faculdade emocional em uma era tão marcada pela supervalorização do racionalismo – como fora o século XVII – principalmente no cientificismo e na veneração da tecnologia, que inclusive transformam até mesmo as relações, demonstrando o grau de insensibilidade de nosso tempo.
O apelo de Pascal nos lança o desafio de reavaliarmo-nos diante da sensibilidade e da emoção para uma reestruturação das relações humanas. Cabe ao homem contemporâneo buscar pautar as relações a partir deste olhar. Da questão levantada por Pascal, da visão holística e realista do homem, surgem outras perspectivas, e a principal, para a nossa época é o olhar para o outro como um igual a mim.
Pascal continua atual por revelar a constante busca do homem pelo divertissement, proporcional à sua constante fuga de si. Fechando-se a si mesmo, a humanidade acredita ser mais fácil suportar a dificuldade de nossa era. É uma forma de estoicismo, que apresenta sua crise nos já enumerados sintomas diagnosticados. Urge, de todo esse cenário assustador, embora velado, a necessidade de uma ética, desejo último de Pascal em sua Filosofia. Refletir iluminados por Pascal é colocar o homem no seu devido lugar, de ser limitado, que nada em sua constituição é perfeito.
Há a necessidade da abertura à sensibilidade, uma sensibilidade generalizada, um verdadeiro esprito de finesse. A “ética da sensibilidade generalizada” é um apelo, talvez não tão novo, mas urgente e indispensável para a nossa época. Blaise Pascal abre esta perspectiva. Olhar o ser humano na sua totalidade é o desafio e a solução para as futuras gerações e para buscar a autocompreensão e a via de solução de problemas tão humanos.
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