A obesidade é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a epidemia do século. Dados recentes revelam que 48,1% da população adulta no Brasil está acima do peso e 15% são obesos. Essas estimativas foram obtidas após entrevistas em 2010 com mais de 54 mil adultos, residentes de 27 capitais, e compõem o estudo Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), organizado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP). Com o número de obesos, aumenta também a quantidade de cirurgias bariátricas realizadas. Pesquisas revelam que, em dez anos, de 1999 a 2009, o número de cirurgias para obesidade mórbida cresceu mais de 500% no País.
A doença, que aumenta de forma alarmante no Brasil e no mundo, é multifatorial e o componente psicológico exerce papel importante nesse cenário. Psicólogos e psiquiatras discutem fatores psicológicos que estão por trás da obesidade e como os recursos da Psicologia e da Psiquiatria podem ser importantes para pessoas que se submetem às cirurgias bariátricas. Será que nessa transição é preciso aprender a "pensar" como magro?
Pesquisas revelam que, em dez anos, de 1999 a 2009, o número de cirurgias para obesidade mórbida cresceu mais de 500% no País.
Preguiçoso, acomodado, glutão. Estes e outros adjetivos depreciativos são, com freqüência, referenciados a pessoas obesas que, ao senso comum, parecem simplesmente não se esforçarem para perder peso. O problema desta avaliação é que ela ignora que a obesidade muitas vezes não é mera conseqüência da baixa atividade física ou de um estilo de vida sedentário. Ou seja, nem sempre a obesidade e a permanência do indivíduo nesse estado podem ser explicadas por razões puramente fisiológicas.
À obesidade podem estar atrelados transtornos psicológicos graves. As necessidades emocionais específicas de pessoas obesas tornam o processo de emagrecimento uma luta frustrante e de resultados geralmente temporários, conseguidos por meio de dietas e "pílulas milagrosas" que ignoram possíveis fatores emocionais ligados ao ato de comer. "O objetivo [no tratamento da obesidade] deve ser estabelecer uma relação saudável entre o indivíduo e a comida, de forma que esta perca a função de nutrir os afetos", orienta a psicóloga clínica e psicoterapeuta corporal Mary Scabora.
Segundo a profissional - que coordena no Rio de Janeiro o projeto Integração, de tratamento multidisciplinar de emagrecimento para o obeso - o ato de comer tem uma significação única, que vai além da mera obtenção de energia, relacionando-se na verdade com suas funções mais primitivas. "Na literatura psicanalítica, a boca é o primeiro acesso de comunicação com o mundo externo. É na fase oral que estabelecemos esta relação e que temos contato com sentimentos como prazer, satisfação, amor, agressividade, raiva, privação e medo", explica. Pessoas obesas comumente usam a comida como um substituto emocional, recorrendo a ingestões elevadas e compulsivas de alimentos para fugir do enfrentamento de decepções, frustrações ou acontecimentos que os deixem ansiosos. Nestas condições, diz Mary Scabora, "o excesso de comida cumpre o papel de preencher o vazio existencial".
Ainda que não seja possível estabelecer um "perfil" da pessoa obesa, já que a forma como esta lida com sua condição depende de fatores sociais e ambientais - por exemplo, o desconforto com a aparência depende muitas vezes de o obeso ter vivido ou não situações em que foi ridicularizado devido a seu peso -, a doença não raro é acompanhada de déficits psicológicos, como baixa autoestima, ansiedade, sentimento de culpa, depressão e insegurança. Este quadro pode resultar em transtornos alimentares.
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