Fala-se em "realidade" como algo único e compartilhado por todos, mas uma das principais questões da Filosofia é se existe uma realidade objetiva ou se ela é modificada pelos sentidos. A visão de realidade universal pode levar a problemas éticos na relação com o outro
Ao se falar em "realidade", estamos falando de um mundo comum onde todos vivemos ou de meu mundo particular, percebido apenas por mim? É em relação a isso que se apoia uma das principais dicotomias da Filosofia, o objetivismo e o subjetivismo do conhecimento. Esse problema não escapou à maior parte dos filósofos, que ofereceram várias respostas para o problema.
Kant, na Crítica da Razão Pura, tenta resolver o problema abrindo uma perspectiva relacional para o problema: a experiência chega pelos sentidos, mas é elaborada como conhecimento pelas categorias a priori da razão. O elemento subjetivo, aqui, está presente como o organizador dos dados da realidade - se é possível correr o risco de uma imagem, mais ou menos como um copo que, de certo modo, dá a forma ao líquido que está dentro dele. O líquido veio de um ambiente externo ao copo, mas, ao ser colocado lá dentro, toma a forma cilíndrica do recipiente.
Com isso, Kant ofereceu uma solução a respeito da relação entre mente e sentidos na compreensão do mundo. A realidade existe como fato objetivo, mas só pode ser percebida de forma subjetiva pela razão - conhecemos os fenômenos, isto é, a manifestação das coisas; os noumenos, ou seja, as coisas em si, permanecem fechadas aos nossos sentidos.
Outra resposta veio no início do século XX. É uma das principais contribuições de Edmund Husserl à discussão sobre a realidade, o conceito de Lebenswelt, traduzido como "mundo vivido", embora também como "mundo da vida". Trata-se, em linhas bastante gerais, do mundo cotidiano, do que seria chamado de "vida real" em sua expressão mais simples, como a experiência prática que se tem do cotidiano, da vida com todos os outros. Essa investigação da experiência como ponto de partida seguiu, na trilha de Husserl, filósofos como Heidegger e Alfred Schutz.
Tudo o que não pode ser captado diretamente pelos sentidos deve chegar de outro lugar. São narrativas que, de alguma maneira, compõem boa parte do nosso conhecimento a respeito do mundo. Na vida cotidiana, boa parte dessas narrativas é simplesmente aceita sem muita preocupação. Afinal, sua relevância no cotidiano é pequena - ninguém precisa saber qual é a capital da Polônia durante uma ida à padaria. No entanto, para além de qualquer elemento anedótico, isso pode ser visto como um indício de que nossa concepção da realidade, em sua dimensão mais profunda, talvez seja precária: uma parte do que entendemos como "real" se liga a conhecimentos além de qualquer comprovação para nós.
Searle lembra que podemos ver a "realidade" como uma série de impulsos elétricos que caminha de nossos sentidos até o cérebro por uma complexa rede neuronal.
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