quinta-feira, 25 de agosto de 2011

KANT E O BELO



Como vimos na edição anterior, os juízos estéticos são elementos evidentes por si só. Porém, diante da existência do juízo estético, colocam-se dois problemas: o de estabelecer o que seja propriamente o belo que nele se manifesta; e o de remontar ao fundamento que o torna possível.
Kant, de fato, divide a beleza em duas espécies: “a beleza livre, que não depende de nenhum conceito de perfeição ou uso; e a beleza dependente, que depende desses conceitos. Conseqüentemente, os juízos estéticos estão relacionados com a primeira espécie de beleza” (ARANHA, p. 366).
O belo obviamente não pode ser uma propriedade objetiva das coisas, como o belo ontológico, mas sim algo que nasce da relação entre o sujeito e o objeto. Além disso, é aquela propriedade que nasce da relação dos objetos comparados com o nosso sentimento de prazer e que nós atribuímos aos próprios objetos.
A imagem do objeto referida ao sentimento de prazer, comparada a este e por este avaliada dá lugar ao juízo de gosto, assim definido: “O juízo de gosto ou estético é universalizável: o seu objeto provoca a adesão de outros sujeitos conscientes, na medida em que o prazer desinteressado não é uma satisfação confinada ao que particulariza como indivíduo, mas depende da capacidade de sentir e de pensar, comum a todos os homens” (Benedito Nunes. Introdução à Filosofia da Arte, Editora Ática, São Paulo, 2002, p. 49).
Daí, o belo caracterizar-se como objeto de “prazer sem interesse”. Falar de prazer sem interesse significa falar de prazer que não está ligado ao grosseiro prazer dos sentidos, nem ao útil econômico e ao bem moral.
Belo, para Kant, é aquilo que agrada universalmente, sem conceito. O prazer do bem é universal, porque vale para todos os homens e, portanto, se distingue dos gostos individuais; entretanto, essa universalidade não é de caráter conceitual ou cognoscitivo. Trata-se, portanto, de uma universalidade “subjetiva”, no sentido de que vale para cada sujeito.
Todavia, bela é a forma da finalidade do objeto percebida sem objetivo. Diante do belo da natureza, nós percebemos como que a presença de um desígnio intencional pelo qual o objeto belo se nos configura como obra de arte. Ao contrário, diante de uma obra de arte, que segue um desígnio intencional, nós sentimos que ela é verdadeiramente bela quando aquela intencionalidade se oblitera e o objeto parece uma criação espontânea da natureza.
Uma vez que reunidas as duas qualidades, parecidas em contraste, mas não convergentes, podemos dizer que no belo, da natureza ou da arte, é preciso que exista e não exista fim, ou seja, exista como se não existisse, isto é, que a intencionalidade e a espontaneidade estejam fundidas de tal maneira que a natureza pareça arte e a arte pareça natureza.
Portanto, o belo é aquilo que é reconhecido, sem conceito, como objeto de prazer necessário. Trata-se, obviamente, não de uma necessidade lógica, mas sim subjetiva, no sentido de que se trata de algo que se impõe a todos os homens.
Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo (jardinense).

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