sábado, 25 de junho de 2011

A crise da sensibilidade


A verdadeira compaixão e solidariedade, que deveria tocar os seres humanos diante da morte de outros semelhantes, dão lugar a um mero conformismo, que muitas vezes até justifica tais mortes dos mais diversos modos. Parece que a indiferença defendida pelos estoicos chegou ao seu ápice, ao ponto de se manifestar pela própria vida. Também vemos tal dificuldade na relação interpessoal no crescimento dos índices de “relacionamentos virtuais”. Uma das consequências do racionalismo foi o mecanicismo, no qual os próprios seres humanos caíram. Vemos isso de maneira plena na quantidade de pessoas que se relacionam com outras através de uma máquina, o que pode ser visto como um avanço da comunicação e da diminuição nas fronteiras do mundo, mas que distancia as pessoas do contato verdadeiro, dando a impressão de que o orgânico vai sendo substituído pelo mecânico. Estes casos exemplificam a insensibilidade na qual vem se aprofundando o rol das relações humanas e distanciando as pessoas reais, revelando o quanto o lado emocional é relegado a segundo plano.
Por outro lado, nunca se acreditou tanto na superioridade do homem. A razão humana chegou a um número de conquistas, principalmente nos dois últimos séculos, até então nunca visto antes. Tal fato leva a uma crença quase inquestionável no ser humano, na Ciência e na razão, que acentua ainda mais a insensibilidade. Esta crença parece confirmar Descartes e o estoicismo, elevando o racionalismo e mais uma vez criando a ilusão de que as emoções não são importantes, são questões secundárias no desenvolvimento da raça humana. Crê-se no Homem, uma idéia de humanidade superioridade do homem. Crê- -se no Homem, uma idéia de humanidade, mas deixa-se de lado os homens, seres humanos reais, que muitas vezes sequer têm condições de desenvolver o mínimo de sua capacidade racional, pois mesmo com tantos avanços, a humanidade ainda não superou problemas básicos, como a fome, o analfabetismo, a distribuição desigual de renda entre outros.
Esses fatos ajudam a diagnosticar uma falta de rumo na existência dos seres humanos. Diante do número de informações e de realizações com as quais se está obrigada a conviver, qual o caminho a ser tomado, qual rumo seguir? Assim, torna-se um desafio refletir sobre sua existência e olhar para si de uma maneira holística, podendo realmente reconhecer quais são seus anseios. Fatores tão característicos de nossa época, como o consumismo e a globalização, geram maior confusão, e ao mesmo tempo em que se prega o individualismo exacerbado, a tomada de decisões por conta própria, cada vez mais as pessoas se veem uniformizadas pelas redes da “ditadura da moda” e pelos padrões de beleza vigentes. Assim, sem perceber, a pessoa se vê buscando aquilo que é de sua vontade, mas não pára para refletir se aquilo realmente é de sua vontade interna ou se esta vontade lhe é sugestionada, advinda dos diversos formadores de opinião, na busca pela felicidade. Tal fato, não surpreendentemente, leva o homem a um vazio, e este a problemas muito hodiernos, como a depressão e estresse. O primeiro deles é tão grave que ganhou o status de “mal do século XXI”, já que, segundo os índices da OMS, atinge cerca de 121 milhões de pessoas em todo o mundo. Tais fatos, que nos parecem tão atuais, já de alguma forma eram contemplados por um filósofo do século XVII, contemporâneo e também rival de Descartes, Blaise Pascal.

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