domingo, 26 de junho de 2011

DIVERTIMENTO

“Sobrecarregamos os homens, desde a infância, com o cuidado de sua honra, de sua riqueza, de seus amigos, e ainda com o cuidado da riqueza e da honra desses amigos. Fatigamos os homens com negócios, com o estudo de línguas e exercícios, e fazemos-lhe sentir que não poderão ser felizes sem que a sua saúde, honra e fortuna, e as de seus amigos estejam em ordem, e que basta faltar-lhes uma destas coisas para se tornarem infelizes. E damos- -lhe encargos e negócios que os atormentam desde que desponta o dia. – Eis aí, direis, uma estranha maneira de fazê-los felizes! Que se poderia fazer de melhor para torná-los infelizes? – Como! Que se poderia fazer? Bastaria tirar-lhe todas essas ocupações; então se veriam a si mesmos, pensariam no que são, donde vêm e para onde vão. Nunca será demais, portanto, ocupá-los, nem jamais os distrairemos demasiado. E é por isso que, depois de carregá-los de negócios e lhes sobra tempo para descanso, nós os aconselhamos a empregá-lo em divertimentos e no jogo, e a andarem sempre inteiramente ocupados. Como é oco e cheio de baixeza o coração do homem. (...) O homem é visivelmente feito para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever consiste em pensar corretamente. Ora, a ordem o pensamento é de começar por si, e pelo seu autor e sua finalidade”.

Fragmento do texto Pensamentos, de Blaise Pascal

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