quinta-feira, 31 de maio de 2012

Senhor, Dá-nos o dom da comunicação


Senhor, Dá-nos o dom da comunicação. Que sejamos comunicação, porque nascemos para isso da mesma boca de DEUS. Que sejamos comunicação, porque a tua palavra se comunica em minha própria carne. Que sejamos comunicação, porque fomos marcados pelo próprio testemunho do teu Espírito. Faze com que nos comuniquemos, falemos a verdade contra toda a mentira, gritemos a esperança contra a tristeza. Façamos a mensagem suprema do Amor contra o egoísmo. Saibamos acalmar a gritaria do próprio coração alvoroçado. Saibamos sim, usar os meios de comunicação, porque os filhos de Deus não podem ser escravos. Senhor, não podemos deixar nos isolar. Surdos ou mudos, nem pelo medo, nem pelo lucro, nem pela ordem dos dominadores. Faze com que juntemos nossas bocas num grito de justiça, em cima do mar dos vários mundos ou em cima dos montes das estruturas, todas. Fale ao povo pelo Rádio, Fale ao povo pela Imprensa, Fale ao povo na Tv , A verdade, fale ao povo. A verdade. Do alto dos telhados, no coração do mundo. Em torno do tumulto que atormenta os humanos, forjemos o espaço da humana liberdade para a notícia do teu reino. Gritemos o Evangelho. Senhor, Dá-nos o dom de ser palavra transmissora da palavra, Verbos do verbo, que se encarna sempre na vizinhança de Nazaré, nas periferias de Belém, ás margens do lago, na multidão faminta, nas ruas da cidade onde gritam o mercado, a festa e os clarins do império. Gente do sinédrio e do pretório. Na cruz que eles carregam sobre os ombros do servo sofredor. Na silenciosa vida do sepulcro, na vida vencedora da manhã de domingo. E se um dia não pudermos falar mais com palavras, falemos com a vida em fé e testemunhos. Falemos com os olhos aos irmãos assombrados. Oremos sobre tudo, aos ouvidos do pai. E talvez, protestemos com a maior palavra do sangue, proclamando o anúncio da Páscoa.
Assim seja …

DESCARTES – AS PAIXÕES DA ALMA


Art. 36. Exemplo da maneira como as paixões são excitadas na alma.
E, além disso, se essa figura é muito estranha e muito apavorante, isto é, se ela tem muita relação com as coisas que foram anteriormente nocivas ao corpo, isto excita na alma a paixão do medo e, em seguida, a da ousadia, ou então a do temor e a do terror, conforme o diverso temperamento do corpo ou a força da alma, e conforme nos tenhamos precedentemente garantido pela defesa ou pela fuga contra as coisas prejudiciais com as quais se relaciona a presente impressão; pois isso dispõe o cérebro de tal modo, em certos homens, que os espíritos refleti-dos da imagem assim formada na glândula seguem, daí, parte para os nervos que servem para voltar as costas e mexer as pernas para a fuga, e parte para os que alargam ou encolhem de tal modo os orifícios do coração, ou então que agitam de tal maneira as outras partes de onde o sangue lhe é enviado, que este sangue, rarefazendo-se aí de forma diferente da comum, envia espíritos ao cérebro que são próprios para manter e fortificar a paixão do medo, isto é, que são próprios para manter abertos ou então abrir de novo os poros do cérebro que os conduzem aos mesmos nervos; pois, pelo simples fato de esses espíritos entrarem nesses poros, excitam um movimento particular nessa glândula, o qual é instituído pela natureza para fazer sentir à alma essa paixão, e, como esses poros se relacionam principalmente com os pequenos nervos que servem para apertar ou alargar os orifícios do coração, isso faz que a alma a sinta principalmente como que no coração 49.
Art. 37. Como todas parecem causadas por qualquer movimento dos espíritos.
E como acontece coisa semelhante 49 O mecanismo aqui descrito é muito complexo. De uma parte, verifica-se um condicionamento: a ligação "instituída pela natureza" entre a abertura de certos orifícios ventriculares e a paixão sentida pela alma. De outra parle, verifica-se um auto-refor-çamento circular (feedback): '"Os espíritos refleti-dos pela imagem assim formada sobre a glândula", quer por áção direta sobre o coração, quer por uma variação no regime do sangue, modificam o regime dos espíritos animais que seguem do coração para o cérebro, de modo que a alma, sentindo a paixão, torna a lançar os espíritos no mesmo circuito. com todas as outras paixões, a saber, que são principalmente causadas pelos espíritos que estão contidos nas cavidades do cérebro, enquanto tomam seu curso para os nervos que servem para alargar ou estreitar os orifícios do coração, ou para impelir diversamente em sua direção o sangue que se encontra nas outras partes, ou, de qualquer outra maneira que seja, para sustentar a mesma paixão, pode-se claramente compreender, de tudo isso, por que afirmei acima, ao defini-las, que são causadas por algum movimento particular dos espíritos 50.
Art. 38. Exemplo dos movimentos do corpo que acompanham as paixões e não dependem da alma.
De resto, assim como o curso seguido por essesespíritos para os nervos do coração basta para imprimir movimento à glândula pela qual o medo é posto na alma, do mesmo modo, pelo simples fato de alguns espíritos irem ao mesmo tempo para os nervos que servem para mexer as pernas na fuga, causam eles um outro movimento na mesma glândula por meio do qual a alma sente e percebe tal fuga, que dessa forma pode ser excitada no corpo pela simples disposição dos órgãos e sem que a alma para tanto contribua.
Art. 39. Como a mesma causa pode excitar diversas paixões em diversos homens.
A mesma impressão que exerce sobre a glândula a presença de um ob-jeto pavoroso, e que causa o medo em alguns homens, pode excitar, em outros, a coragem e a audácia, isto porque nem todos os cérebros estão dispostos da mesma maneira, e o mesmo movimento da glândula que em alguns excita o medo faz com que, em outros, os espíritos entrem nos poros do cérebro que os conduzem, parte aos nervos que servem para mexer as mãos na defesa e parte nos que agitam e impelem o sangue ao coração, da maneira requerida a produzir espíritos próprios para continuar esta defesa e manter a vontade de prossegui-la51.
Art. 40. Qual é o principal efeito das paixões.
Pois cumpre notar que o principal efeito de todas as paixões nos homens é que incitam e dispõem a sua alma a querer as coisas para as quais elas lhes preparam os corpos; de sorte que o sentimento de medo incita a fugir, o da audácia a querer combater e assim por diante52.

A Educação Romana


O espírito prático romano manifesta-se também na educação, que se inspirou, entre os romanos, nos ideais práticos e sociais. Na história da educação romana podem-se distinguir três fases principais: pré-helenista, helenista-republicana, helenista-imperial. A primeira e fundamental instituição romana de educação é a família de tipo patriarcal, germe de uma sociedade mais vasta, que vai da cidade ao império: os patres governam a coisa pública. Educador é o pai, que na sociedade familiar romana desempenha também as funções de senhor e de sacerdote - paterfamilias. Nesta obra educativa colaborava também a mãe, especialmente nos primeiros anos e no concernente aos primeiros cuidados dos filhos, sendo, em Roma, mais considerada a mulher do que na Grécia, dadas as suas predominantes qualidades práticas. O fim da educação é prático-social: a formação do agricultor, do cidadão, do guerreiro - salus reipublicae suprema lex esto. Essencialmente práticos e sociais são os meios: o exemplo, o treinamento ministrado pelo pai que faz o filho participar na sua atividade agrícola, econômica, militar e civil, a tradição doméstica e política - mos maiorum; e a religião - pietas - entendida como prática litúrgica, sendo a religião, em Roma, diversamente do que era na Grécia, sumamente pobre de arte e de pensamento. E tudo isso sob uma disciplina severa. Enfim, prático-social era o próprio conteúdo teorético da educação, a instrução propriamente dita, que se reduzia a uma aprendizagem mnemônica de prescrições jurídicas, concisas e conceituosas - as leis das doze tábuas - que regulavam os direitos e os deveres recíprocos naquela elementar, mas forte sociedade agrícola-político-militar.
A educação romana sofreu necessariamente uma profunda modificação, quando o antigo estado-cidade, desenvolvendo-se e expandindo-se para a nova forma do estado imperial - entre o terceiro e o segundo século a.C. - veio em contato com a nova civilização helênica, cuja irresistível fascinação também Roma sofreu. Sentiu-se então a exigência de um novo sistema educativo, em que a instrução, especialmente literária, tivesse o seu lugar. Esta instrução literária partiu precisamente da cultura helênica. Primeiro são traduzidas para o latim as obras literárias e poéticas gregas - por exemplo, a Odisséia -, depois estudam-se os autores gregos no texto original, enfim se forma pouco a pouco uma literatura nacional romana sobre o modelo formal da grega. E, deste modo, a princípio é a literatura grega que se difunde em Roma, depois, mediante a literatura, é o pensamento grego que penetra e se difunde, e afinal, através do pensamento, entra e se espalha a concepção grega da vida - porquanto estava pelo menos nas possibilidades do caráter latino.
Evidentemente, a família não estava mais à altura de ministrar esta nova e mais elevada instrução. As famílias das mais altas classes sociais hospedam em casa um mestre, geralmente grego - pedagogus ou litteratus. E, para atender às exigências culturais e pedagógicas das famílias menos abastadas, vão-se, aos poucos, constituindo escolas - ludi - de instituição privada sem ingerência alguma do estado. Essas escolas são de dois graus: elementares - a escola do litterator onde se aprendia a ler, escrever e calcular; médias - a escola do grammaticus - onde se ensinava a língua latina e a grega, se estudavam os autores das duas literaturas, através das quais se aprendia a cultura helênica em geral. Um terceiro grau será, enfim, constituído mediante as escolas de retórica, uma espécie de institutos universitários, que surgem com uma diferenciação e uma especialização superior da escola de gramática.
A sua finalidade era formar o orador, porquanto a carreira política representava, para o espírito prático romano, o ideal supremo. E, portanto, o ensino da eloqüência abrangia toda a cultura, do direito até à filosofia. O orador romano será o tipo do homem de ação, do político culto, em que a cultura é instrumento de ação - negotium e, logo, para os romanos, coisa muito séria, em relação com a seriedade da ação, e não simples distração - otium. Na reação dos conservadores contra a helenização da vida romana, os censores publicavam um decreto que condenava a escola latina de retórica (92 a.C.), por ser "novidade contrária aos costumes e aos preceitos dos maiores", e é definida até como ludus impudentiae. Acabam, todavia, por triunfar os inovadores, e a cultura helênica e os mestres gregos afluem a Roma sempre mais numerosos e bem acolhidos, enquanto a elite  dos jovens romanos vai se aperfeiçoar nos centros de cultura helenista, especialmente em Atenas.
Juntamente com a organização do império organizam-se também as escolas romanas. Por certo, vindo a faltar a liberdade, vem a faltar o interesse político da cultura; as escolas de retórica perdem a função prática e social, transformando-se em meios de ornamento intelectual entre os lazeres de uma aristocracia cultural, o que, absolutamente falando, representa uma purificação da cultura no sentido especulativo, dianoético, grego; mas, relativamente ao espírito prático-social romano, significa uma decadência para o diletantismo. Seja como for, o estado romano mostra agora apreciar a cultura. Começam os imperadores romanos por conceder imunidade e retribuições aos mestres de retórica ainda docentes em casas particulares; depois o estado passa a favorecer e promover a instituição de escolas municipais de gramática e de retórica nas províncias; enfim são fundadas cátedras imperiais, especialmente de direito, nos grandes institutos universitários.
Um dos principais motivos de interesse imperial pela cultura e a sua difusão foi o fato de se ver nela um eficaz instrumento de romanização dos povos, um instrumento de penetração e de expansão da língua e dos jus romano, um meio, em suma, para o engrandecimento do império. E o resultado foi fecundo também para a cultura como tal, porquanto foi ela levada, embora modestamente, aqueles povos - Espanha, Gália, Grã-Bretanha, Germânia, províncias danubianas, África setentrional - a que o helenismo não pudera chegar. Tais escolas municipais foram tão vitais nas províncias, que muitas sobreviveram à queda do império romano ocidental, transformando-se em escolas eclesiásticas graças ao monarquismo cristão, e conservaram acesa na noite barbárica a chama da cultura clássica, preparadora dos esplêndidos renascimentos posteriores.
O teórico da pedagogia romana pode ser considerado Quintiliano. Nasceu na Espanha no II século d.C., foi professor de retórica em Roma, o primeiro docente pago pelo estado, quando Vespasiano era imperador. Na Instituição Oratória, em doze livros, expõe o processo de formação do orador - cuja figura ideal já delineara Cícero no De Oratore. Faz Quintiliano uma exposição completa, propondo programas e métodos que foram em grande parte adotados sucessivamente nas escolas do império. A instituição escolástica compreende os dois graus tradicionais de gramática e retórica. No curso de gramática ensinam-se a língua latina e a língua grega, a interpretação dos poetas - Vergílio e Homero - e as noções necessárias para este fim. No curso de retórica ensinam-se a interpretação dos historiadores - Lívio - e dos oradores - Cícero -, o direito e a filosofia, enquanto fornecem o conteúdo essencial à arte oratória. Um lugar de destaque ocupam as normas e as exercitações de eloqüência, o fim supremo da educação romana, segundo o espírito prático-político romana.

O Método Socrático -PARTE III


O modo como Sócrates se dirige ao seu interlocutor e desenvolve o seu método apresenta quatro características:
É um modo dual, na medida em que se dirige sempre a um interlocutor determinado. Sócrates nunca se dirige a um grupo de homens, nem aos homens em geral. Há sempre um personagem concreto a quem dirige as suas perguntas, com quem dialoga segundo as particularidades desse indivíduo. Na obra em estudo, Sócrates dirige-se a Protágoras, e é entre estes que se processa a discussão dialogada tendo em conta as características do seu interlocutor de forma a haver uma argumentação eficaz.
É dialéctico. Sócrates jamais admitia como verdadeiro o que seu interlocutor não admitisse como verdadeiro. Assim o diálogo só se desenrola e toma caminho mediante aquilo a que o interlocutor dá acordo. Nunca Sócrates impõe as suas idéias a ninguém. Esta postura de Sócrates é bem vísivel no Protágoras, em frases como: «Tu dirias o mesmo?», «Díriamos que sim, ou não?»,  « E tu o que dirias? Não responderias deste modo?», prosseguindo o diálogo sempre com base no que Protágoras aceita como verdadeiro.
É elêntico, ou seja, refutatório. Nos seus diálogos, Sócrates ocupa o lugar de interrogador. Aliás, nem podia ser de outro modo uma vez que ele parte para a discussão com uma atitude de dúvida constante, afirmando nada saber - "só sei que nada sei". Cabe ao seu interlocutor responder. Esta característica do modo pelo qual Sócrates se dirige ao seu interlocutor, está fortemente ligada ao primeiro momento em que há a destruição das idéias feitas, da tese que o interlocutor sustenta inicialmente como verdadeiro. É através desta característica que Sócrates faz com que o seu interlocutor entre em contradição.  Como diz Wolf, é esta a característica que põe à prova, pela refutação, a coerência absoluta das posições espontâneas dos interlocutores.
A última característica é a parhesia. Esta característica consiste em o interlocutor dizer o que pensa verdadeiramente sem se preocupar nem com a opinião dos outros nem com a coerência relativamente à  sua opinião inicial, aderindo totalmente ao que é verdadeiro. O interlocutor compromete-se de um modo total com a verdade, sendo o caminho para a prática do bem e da virtude. A exigência de parrhesia explica as contradições entre os discípulos. Os diferentes discípulos de Sócrates partem de proposições nem demonstradas nem demonstráveis (por exemplo, sobre a natureza do bem), mas que lhes parecem indiscutivelmente verdadeiras, por um lado porque enunciam com parrhesia (que era a unica exigência do mestre), e por outro porque uma versão "flexível" - isto é, não sistemática - destas teses foi admitida pelo próprio.