Não se trata aqui de uma exposição sistemática da teoria do conhecimento
tomista, que é riquíssima, e impossível de ser registrada — em sua totalidade —
em tão poucas linhas. Nossa proposta — aqui — é, no entanto, delinear alguns tópicos
que nos esclareçam o que é mais importante na questão do conhecimento para
Santo Tomás. Após sucintas pontuações devemos nos centrar, no tocante ao lugar que
Deus ocupa na teoria do conhecimento em Tomás. Tomás é essencialmente
aristotélico quando se trata de estruturar a sua teoria do conhecimento. O
conhecimento tem origem nos sentidos. Não conhecemos nada que não tenha passado
pelos nossos sentidos13. O conhecimento sensitivo é a matéria do conhecimento
intelectivo14. Para o Aquinate nascemos sem nenhum conhecimento, mas apenas com
a faculdade de conhecer. Em outras palavras, nascemos com a potência de
conhecer, mas não com o conhecimento em ato15. Portanto, fica descartada toda
espécie de conhecimento inato a respeito das coisas16. Ademais, em Tomás, o
corpo é necessário, por causa da sua união substancial com a alma, para que
haja qualquer conhecimento intelectivo a respeito das coisas17. O nosso
intelecto, enquanto unido a um corpo, só pode conhecer algo se voltando para as
representações imaginárias18 (imagens sensíveis ou fantasmas), representações
estas que são formadas pelo sentido comum19. Logo, não pode haver, no homem,
nenhum conhecimento intelectivo sem o sensitivo20. De fato, Tomás sempre parte
do pressuposto de que os sentidos não nos enganam, mas nos colocam em contato
com o real21. E, se os sentidos não nos enganam, não é necessário demonstrar
aquilo que os sentidos nos atestam com toda certeza, logo, tal conhecimento é
evidente para nós. Se partirmos do princípio de que todo conhecimento começa
nos sentidos22, precisamos, coerentemente, admitir também que os sentidos não
nos enganam. Caso se admita o engano dos sentidos, todo o nosso conhecimento
está comprometido, visto que, todo o conhecimento humano começa pelos sentidos.
Se os sentidos nos enganam, então todo o nosso conhecimento seria enganoso e
não teríamos acesso à realidade, pois, quando conhecemos, conhecemos o real, e
o conhecemos mediante os sentidos. Pelos sensíveis próprios recebemos as
espécies23 sensíveis das coisas, ou seja, as qualidades sensíveis do objeto.
Por exemplo, pelo sensível próprio da visão, recebemos as cores do objeto; pelo
sensível próprio do paladar, o gosto; e assim por diante. Portanto, o objeto
próprio da visão é a cor; do paladar, o gosto. Não podemos saborear o gosto de
uma coisa vendo-a, nem vê-la saboreando-a. O sensível próprio dá condições ao
seu sentido próprio de discernir ainda entre os seus objetos próprios, por exemplo,
a visão consegue distinguir o branco do preto ou do verde.24 Contudo, quem vê
algo, vê a sua cor, e não o seu gosto, e por isso a visão não é capaz de
distinguir entre o branco e o doce. Daí a necessidade também de um sentido
comum, para reunir esses dados e conhecê-los.25 Quando conheço uma coisa, não
conheço a sua cor, nem o seu sabor, mas conheço a coisa por meio da sua cor e
do seu gosto. Cabe, pois, ao sentido comum reunir o sabor, a cor e os demais
dados recolhidos dos objetos, para que, por meio deles, conheçamos, isto é,
tenhamos uma imagem da própria coisa. Essa imagem sensível, embora sem a
matéria, representa o que a coisa é. Damos o nome de espécie impressa sensível
às qualidades sensíveis do objeto, mas damos o nome de espécie expressa sensível
à imagem da coisa gerada em nós. Estas imagens serão conservadas pela
imaginação. Tomás chama a imaginação ou fantasia de tesouro das formas recebidas
pelos sentidos.26 O Aquinate entende que, quanto ao sensível próprio, não pode
haver erro.27 No que toca o sentido comum, este é passível de erro.
Fonte: UNIVERSIDADE
FEDERAL DE MATO GROSSO-UFMT
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS-ICHS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
TEMA: As Provas da Existência de Deus em Tomás de Aquino
ALUNO - Sávio Laet
de Barros Campos
Ano da defesa - Cuiabá, 2005.
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