O modo como Sócrates se dirige ao seu
interlocutor e desenvolve o seu método apresenta quatro características:
• É um
modo dual, na medida em que se dirige sempre a um interlocutor determinado.
Sócrates nunca se dirige a um grupo de homens, nem aos homens em geral. Há
sempre um personagem concreto a quem dirige as suas perguntas, com quem dialoga
segundo as particularidades desse indivíduo. Na obra em estudo, Sócrates
dirige-se a Protágoras, e é entre estes que se processa a discussão dialogada
tendo em conta as características do seu interlocutor de forma a haver uma
argumentação eficaz.
• É
dialéctico. Sócrates
jamais admitia como verdadeiro o que seu interlocutor não admitisse como
verdadeiro. Assim o diálogo só se desenrola e toma caminho mediante aquilo a
que o interlocutor dá acordo. Nunca Sócrates impõe as suas idéias a
ninguém. Esta postura de Sócrates é bem vísivel no Protágoras, em frases como:
«Tu dirias o mesmo?», «Díriamos que sim, ou não?», « E tu o que dirias? Não responderias deste
modo?», prosseguindo o diálogo sempre com base no que Protágoras aceita como
verdadeiro.
• É
elêntico, ou seja, refutatório. Nos seus diálogos, Sócrates ocupa o lugar de
interrogador. Aliás, nem podia ser de outro modo uma vez que ele parte para
a discussão com uma atitude de dúvida constante, afirmando nada saber - "só sei que nada sei".
Cabe ao seu interlocutor responder. Esta característica do modo pelo qual
Sócrates se dirige ao seu interlocutor, está fortemente ligada ao primeiro
momento em que há a destruição das idéias feitas, da tese que o interlocutor
sustenta inicialmente como verdadeiro. É através desta característica que
Sócrates faz com que o seu interlocutor entre em contradição. Como diz Wolf, é esta a característica que
põe à prova, pela refutação, a coerência absoluta das posições espontâneas dos
interlocutores.
• A
última característica é a parhesia. Esta característica consiste em o interlocutor dizer o
que pensa verdadeiramente sem se preocupar nem com a opinião dos outros nem com
a coerência relativamente à sua opinião
inicial, aderindo totalmente ao que é verdadeiro. O interlocutor
compromete-se de um modo total com a verdade, sendo o caminho para a prática do
bem e da virtude. A exigência de parrhesia explica as contradições entre os
discípulos. Os diferentes discípulos de Sócrates partem de proposições nem
demonstradas nem demonstráveis (por exemplo, sobre a natureza do bem), mas que
lhes parecem indiscutivelmente verdadeiras, por um lado porque enunciam com
parrhesia (que era a unica exigência do mestre), e por outro porque uma versão
"flexível" - isto é, não sistemática - destas teses foi admitida pelo
próprio.
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