quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Método Socrático -PARTE III


O modo como Sócrates se dirige ao seu interlocutor e desenvolve o seu método apresenta quatro características:
É um modo dual, na medida em que se dirige sempre a um interlocutor determinado. Sócrates nunca se dirige a um grupo de homens, nem aos homens em geral. Há sempre um personagem concreto a quem dirige as suas perguntas, com quem dialoga segundo as particularidades desse indivíduo. Na obra em estudo, Sócrates dirige-se a Protágoras, e é entre estes que se processa a discussão dialogada tendo em conta as características do seu interlocutor de forma a haver uma argumentação eficaz.
É dialéctico. Sócrates jamais admitia como verdadeiro o que seu interlocutor não admitisse como verdadeiro. Assim o diálogo só se desenrola e toma caminho mediante aquilo a que o interlocutor dá acordo. Nunca Sócrates impõe as suas idéias a ninguém. Esta postura de Sócrates é bem vísivel no Protágoras, em frases como: «Tu dirias o mesmo?», «Díriamos que sim, ou não?»,  « E tu o que dirias? Não responderias deste modo?», prosseguindo o diálogo sempre com base no que Protágoras aceita como verdadeiro.
É elêntico, ou seja, refutatório. Nos seus diálogos, Sócrates ocupa o lugar de interrogador. Aliás, nem podia ser de outro modo uma vez que ele parte para a discussão com uma atitude de dúvida constante, afirmando nada saber - "só sei que nada sei". Cabe ao seu interlocutor responder. Esta característica do modo pelo qual Sócrates se dirige ao seu interlocutor, está fortemente ligada ao primeiro momento em que há a destruição das idéias feitas, da tese que o interlocutor sustenta inicialmente como verdadeiro. É através desta característica que Sócrates faz com que o seu interlocutor entre em contradição.  Como diz Wolf, é esta a característica que põe à prova, pela refutação, a coerência absoluta das posições espontâneas dos interlocutores.
A última característica é a parhesia. Esta característica consiste em o interlocutor dizer o que pensa verdadeiramente sem se preocupar nem com a opinião dos outros nem com a coerência relativamente à  sua opinião inicial, aderindo totalmente ao que é verdadeiro. O interlocutor compromete-se de um modo total com a verdade, sendo o caminho para a prática do bem e da virtude. A exigência de parrhesia explica as contradições entre os discípulos. Os diferentes discípulos de Sócrates partem de proposições nem demonstradas nem demonstráveis (por exemplo, sobre a natureza do bem), mas que lhes parecem indiscutivelmente verdadeiras, por um lado porque enunciam com parrhesia (que era a unica exigência do mestre), e por outro porque uma versão "flexível" - isto é, não sistemática - destas teses foi admitida pelo próprio.

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