Em geral, o método dialógico de Sócrates é
constituído por dois momentos fundamentais:
• a
ironia que denuncia as verdades feitas e o falso saber daqueles que pretendiam
reduzir o verdadeiro ao verosímil
• a maiêutica, técnica através da
qual se consegue observar como é que uma ciência desconhecida se transforma
progressivamente numa ciência conhecida. No entanto, no diálogo
Protágoras, a maiêutica não aparece. Segundo Platão, Sócrates fora buscar a sua
arte da maiêutica a sua mãe que era parteira. Na Grécia clássica só as mulheres que já não podem dar à
luz estão autorizadas a ajudar ao parto das outras. Sócrates
considerava a sua arte como a arte de parturejar; só que agora são homens que dão à luz e é do parto
das suas almas que se trata. Sócrates revelava aos outros aquilo que eles
próprios sabiam sem de tal terem consciência. Ele pretendia que o seu questionamento sistemático
levasse os outros a um ponto crucial de consciência crítica, procurando a
verdade no seu interior, dando assim lugar ao "parto intelectual".
A maiêutica é, assim, a
fase positiva, construtiva, do método socrático que permite o acordo através
das certezas universais obtidas pela definição após a discussão. Trata-se de um
diálogo do primeiro período que se caracteriza pela ausência da teoria da
reminiscência que serve de fundamento à maiêutica.
Podemos sistematizar as características principais
do método de Sócrates neste diálogo tendo em conta o seu carácter dialéctico,
aporético, irónico, a procura da definição e a coerência prática. Sócrates é
aquele que possui a arte subtil de dialéctica que, como diz Wolff, era "um
jogo de espírito e de finura feito de
fintas e de esquivas, torneio de raciocinadores armados de argumentações
estratégicas e de objecções estáticas"(1985, p.33).
Através de perguntas/respostas pretendia dar e
devolver argumentos entre interlocutores através de um discurso curto e preciso
cujo objectivo era a procura da verdade. A este método cuja arte subtil está na
capacidade de argumentar chama-se "dialéctica".
Numa
primeira fase Sócrates procura de forma polémica destruir a suposta coerência
do raciocínio dos seus interlocutores. Sócrates faz com que os outros falem sobre aquilo
que afirmam para os obrigar a reflectir sobre aquilo que fazem. Ele opõe-se à verdade
estereotipada, ao dogmatismo e pretende destruir os preconceitos irreflectidos.
Quer que os seus interlocutores se consciencializem da suposta
"verdade" das suas afirmações levando-os a um exame de consciência
que lhes dará conta da sua ignorância. É como se os conhecimentos
das pessoas fossem postos em causa através da interrogação e não de uma forma
expositiva. Assim os adversários de Sócrates
são levados à dúvida relativamente aos seus próprios conhecimentos ficando embaraçados
com as perguntas insidiosas e precisas, cujas respostas demonstram quão fracos
são os seus argumentos e opiniões.
Mas Sócrates usava então uma das suas outras
técnicas: dar a mão ao interlocutor apesar de achar que este estava vencido no
argumento usado. O que Sócrates pretendia era que não houvessem vencedores nem
vencidos, mas caminhar conjuntamente para estabelecer a verdade.
O carácter aporético do discurso prende-se com o
facto de Sócrates não responder às próprias questões que lança. Não dá respostas
positivas. Sócrates não pretende informar, mas formar. Aquilo que viesse do
mestre em sentido único teria apenas um efeito exterior sobre a consciência do
aluno; a formação só pode efectuar-se segundo o ritmo e as exigências próprias
do desenvolvimento interior individual. Sócrates repete que nada sabe, nada tem para ensinar, nem
ninguém a quem formar. E não tendo nada para oferecer a não ser a
sua companhia basta que cada um pense por si próprio para se aperceber de que
sabe mais do que ele. "Ignorância fingida, falsa modéstia, artimanha
pedagógica de todo o mestre-pensador?" (Wolff, 1985, p.21). Sócrates
procura na "dialéctica", arte do diálogo, muito mais do que um método
de educação; vê nela um modelo da verdade, cujo princípio básico poderia ser
assim enunciado: admitir apenas como verdade aquilo que o interlocutor
reconheceu claramente como verdadeiro. Uma verdade possuída, mas não partilhada com outros não seria uma
verdade e permaneceria num estado de opinião ao qual se poderia chamar de
estéril. Para Sócrates
a educação não é uma mera transmissão de saberes, mas sim o despertar do saber existente em cada
um de nós através da auto-reflexão.
Outra das características do diálogo é a ironia
zombeteira que anula o saber irreflectido dos interlocutores reduzindo a zero
as suas pretensões normativas. Passa-se da certeza à dúvida e do presumível saber ao questionamento
dos seus pressupostos. Há nos
diálogos de Sócrates uma curiosa revolta irónica, a Ironia Socrática, séria e
trocista: O "eu
não sei nada (daquilo que julgas que eu sei), mas tu sabes (aquilo que tu não
sabes que sabes)" desdobra-se num "tu não sabes nada (daquilo que julgas saber),
mas eu sei (aquilo de
que tu nem sequer suspeitas)". É por isso que no fundo o método
de Sócrates não está muito longe da nossa ironia (no sentido moderno) que, nem
hipócrita nem verdadeiramente franca, diz a verdade parecendo dizer o
contrário, sem nunca sabermos por onde pegar. (Wolff, 1985, p.52)
Nenhum comentário:
Postar um comentário